Cleunice, Dárcio e Jovanir
11 dias nos passos de Gaby, na França
Por: Jovanir
Com os asnos de Lulu
Segunda, 11 de janeiro de 2016
Que dia maravilhoso ao lado de pessoas tão especiais! Hoje vivemos uma muito gostosa experiência. Saímos de casa por volta das 9h; dirigimo-nos a Saligney (casa de Dominique e Josette LAVRY) ao encontro de Lulu, alguns de seus amigos, e seus dois asnos: Rameaux e Gamin (Rameaux quer dizer Ramos - como o burrinho que conduziu Jesus no Domingo de Ramos; quanto a Gamin acho que podemos traduzir para Guri, ou Piá, ou Moleque, algo assim) para uma caminhada até a Abadia de Acey. Quem nos levou ao seu encontro foi Elisabeth, mas Joelle também estava lá conosco, serelepe como na antevéspera.
Lulu é padre, mas seu ministério é vivido de maneira bem especial: caminha com seus asnos. Ficou famoso na França e outros países quando resolveu que faria uma viagem a pé para Belém ao lado do asno Isidore. Levou meses e meses nessa aventura de fé, de partilha, de abertura à cultura do outro, de riscos pelo caminho, de surpresas indescritíveis. Eu soube que seu jeito de viver o ministério faz com que muitos padres lhe virem a cara (não me surpreende; já era de se esperar); e que é querido por todos que encontra pelo caminho: fiéis e não fiéis (não me surpreende; já era de se esperar).
Tem duas particularidades nesse nosso encontro com Lulu: Ele, ao saber de nossa vinda, provocou essa caminhada com os asnos e amigos: É sua maneira de dizer o quanto alguém lhe é querido. Lulu soube de nossa vinda ao Jura para andar por caminhos de Gaby. Lulu conheceu Gaby; foi seu colega de Seminário; eram muito próximos; seus ideais se conectavam, Gaby era também um defensor dele pois Lulu sofria gozação (bullying) dos colegas e era Gaby quem intervinha em seu favor. Quanto sofreu com o assassinato do amado companheiro de caminhada! Lulu chorou hoje ao falar de Gaby, ao ouvir sobre Gaby, e quebra nossas resistências aflorando também nossas emoções.
Lulu convocou alguns amigos mais próximos para estarem conosco e andarmos 5km com seus asnos até a Abadia de Acey. E é aí que vem mais uma particularidade deste encontro: Gabriel admirava muito a vida monástica, vinha com freqüência a esta mesma Abadia, e soubemos, na véspera, por Marie Thérèse, sua irmã, que foi aqui que ele teria tomado sua decisão de partir em missão (sem ainda saber para onde; sem ainda saber que seria para o Brasil, para o Estado do Espírito Santo, para Cariacica).
Tomamos a estrada. Lulu é como Gaby: um articulador. Num instante fez com que todos estivessem à vontade, e misturados, e conversando, e se conhecendo. Logo colocou Cléu e Elisabeth na charrete puxada por Rameaux. Rameaux tinha a condução do amável Gilbert; Gamin estava à frente de tudo, tendo ao seu lado o contemplativo e dedicado François. Lulu me colocou próximo a Rameaux e Gilbert, que descobri ter sido piloto de boeing. Também vieram Beatriz (chefe de escoteiros), Caroline (uma jovem que se fez batizar após conhecer a experiência de Lulu) e mais outros que vão me perdoar por lhes ter esquecido o nome. Dárcio ficou extremamente feliz, indo de um lado para o outro, para frente e para trás, registrando tudo com seu celular; como dizemos no Brasil: parecia um pinto na chuva. E ela, a chuva, também veio; acompanhou-nos por cerca de 1 km e meio; foi mais uma companheira no caminho. O sol também deu as caras, e chegamos à Abadia secos e felizes.
Chegamos à hora do ofício do meio-dia. Rezamos e cantamos com o monges (cerca de 15 deles). E eles nos surpreenderam rezando pelos Amigos de Gaby e pela Igreja do Brasil.
Lulu - tal como Gabriel faria - tomou de súbito a palavra e, nos surpreendendo, pediu aos três brasileiros que encerassem o momento celebrativo com o canto "Profeta Gabriel", cuja letra é de Helder Salomão. Os monges acolheram a proposta com um sorriso de quem já conhece o jeito de ser do Lulu. Obedecemos, cantando o refrão:
"Profeta Gabriel, sua luta não foi em vão,
seu sangue é semente de vida, e virá o dia da libertação".
Entre o frio e vento intensos, nos dirigimos para a casa de Joelle, onde seu marido Serge nos aguardava, e ainda Paul e padre Gabriel. Isso mesmo! Para nossa surpresa o pároco do lugar era um Congolês chamado Gabriel, e veio conosco participar dessa refeição festiva. Éramos 15 à mesa. Joelle e Serge deram um jeito de tudo ficar especial. Prepararam um almoço que - não fosse o fato de que tínhamos compromisso às 16h - certamente duraria até o anoitecer.
Da casa de Joelle e Serge voltamos de carro para a Abadia de Acey; os monges nos aguardavam: queriam também um encontro com os amigos de Gaby. Estava também lá Marie Thérèse e Frédéric. Apresentamo-nos para os monges respondendo-lhes perguntas tais como "Como conhecemos Gabriel? e como vivemos hoje os frutos dessa relação?" A resposta a essa segunda pergunta provocava no grupo admiração, respeito, entusiasmo.
Quando o abade perguntou pelo processo (julgamento dos assassinos, investigação acerca dos mandantes do assassinato), a irmã de Gabriel tomou a palavra mostrando-se contrária a algumas posições do grupo amigos de Gaby. Evidente que isso causou certo desconforto. ela tem suas razões, bem embasadas, justas até, segundo seu ponto de vista; e o grupo "Les Amis de Gaby" também tem suas razões para continuar dando passos evidentes em vista do andamento do processo, razões também justas. Lulu, sabiamente, soube contornar o desconforto.
Um breve cafezinho com alguns quitutes foi servido pelos monges. Já era noite quando nos despedimos.
Cleunice, Dárcio et Jovanir
Onze jours sur les pas de Gaby, en France
Par Jovanir
Avec les ânes de Lulu
Lundi 11 janvier 2016
Quelle journée merveilleuse en présence de personnes si particulières. Nous vivons aujourd'hui une expérience très agréable. Nous quittons la maison vers neuf heures et nous nous dirigeons vers Saligney, chez Dominique et Josette Lavry, à la rencontre de Lulu, de quelques uns de ses amis, et de ses deux ânes : Rameaux et Gamin (Rameaux signifie Ramos, (...) comme l'ânon que chevauchait Jésus le dimanche des Rameaux ; pour une balade jusqu'à l'abbaye d'Acey. C'est Élisabeth qui nous a conduits jusqu'à ce lieu de rencontre , mais Joëlle était elle aussi avec nous, très gracieuse comme l'avant-veille.
Lulu est prêtre, mais il vit son ministère d'une manière bien à lui : il chemine avec ses ânes. Il est devenu célèbre en France et ailleurs quand il a entrepris un voyage à pied jusqu'à Bethléem avec son âne Isidore. Ce sont des mois et des mois qu'a duré cette aventure de foi, de partage, d'ouverture à la culture de l'autre, de dangers en chemin, de surprises indescriptibles. J'ai appris que la manière de vivre son ministère avait fait se détourner de lui beaucoup de prêtres (cela ne me surprend pas, il fallait s'y attendre) ; j'ai appris aussi qu'il est aimé de tous ceux qu'il rencontre en chemin : croyants et incroyants (cela ne me surprend pas non plus, il fallait s'y attendre).
Il y a deux particularités dans notre rencontre avec Lulu : Lui, apprenant notre venue, a décidé de faire cette marche avec les ânes et les amis. C'est sa manière à lui de dire combien quelque chose lui est cher. Lulu a appris notre venue dans le Jura pour marcher sur les chemins de Gaby. Lulu connaissait Gaby ; il était avec lui au séminaire ; ils étaient très proches l'un de l'autre ; ils avaient un idéal commun, Gaby était aussi son défenseur quand leurs copains se moquaient de Lulu, il intervenait alors en sa faveur. Combien il a souffert de l'assassinat du compagnon tant aimé avec qui il avait cheminé ! Lulu a pleuré aujourd'hui en parlant de Gaby, en entendant parler de Gaby, et il brise nos résistances en laissant affleurer aussi nos émotions à nous.
Lulu avait convié quelques amis parmi les plus proches à nous accompagner et à marcher sur cinq km avec ses ânes jusqu'à l'abbaye d'Acey .Et c'est là qu'intervient une autre particularité de cette rencontre : Gabriel admirait beaucoup la vie monastique, il venait fréquemment dans cette même abbaye, et nous avons appris, le soir même, par Marie Thérèse, sa sœur, que c'est ici qu'il aurait pris sa décision de partir en mission (sans encore savoir où ; sans encore savoir que ce serait pour le Brésil, pour l’État de l'Espírito Santo, pour Cariacica).
Nous prenons la route. Lulu est comme Gaby : il sait créer des liens. D'emblée, il a fait en sorte que tous se sentent à l'aise, qu'ils se mêlent les uns aux autres, conversant et faisant connaissance. Bientôt il a installé Cléu et Élisabeth dans la charrette tirée par Rameaux. Rameaux était guidé par l'aimable Gilbert ; Gamin était tout en avant, aux côtés de François absorbé dans sa méditation. Lulu m'a rapproché de Rameaux et de Gilbert, j'ai découvert que celui-ci avait été pilote de Boeing. Béatrice était venue aussi (cheftaine scoute), Caroline, une jeune femme qui s'est fait baptiser après avoir eu connaissance de l'expérience de Lulu et d'autres encore qui me pardonneront d'avoir oublié leur nom. Dárcio était extrêmement heureux, allant de droite à gauche, d'avant en arrière, enregistrant tout dans son téléphone ; comme nous disons au Brésil : comme un canard sous la pluie ; (nous en France nous disons : comme un poisson dans l'eau) ; Elle est venue, elle aussi, la pluie ; elle nous a accompagné sur environ un km et demi ; c'était une compagne de plus sur le chemin. Le soleil, également s'est montré, et nous sommes arrivés à l'Abbaye, secs et heureux.
Nous arrivons à l'heure de l'office de midi. Nous prions et chantons avec les moines (une quinzaine). Et ils nous ont surpris en priant pour les Amis de Gaby et pour l’Église du Brésil.
Lulu - tout comme Gabriel aurait fait – a pris tout de suite la parole et, à notre grande surprise, a demandé aux trois Brésiliens de clore ce moment de célébration en entonnant « Profeta Gabriel », dont les paroles sont de Helder Salomão* (un ami de Gaby qui fut ensuite maire de Cariacica, aujourd'hui député fédéral). Les moines ont accueilli cette proposition avec le sourire de qui connaît bien la façon d'être de Lulu. Nous acquiésçons, en chantant le refrain :
« Prophète Gabriel, ta lutte n'a pas été vaine,
Ton sang est semence de vie, et le jour viendra de la libération »
Dans le vent et le froid intense, nous nous sommes dirigés vers la maison de Joëlle où son mari Serge nous attendait, ainsi que Paul et le Père Gabriel. Oui vraiment ! A notre grande surprise le curé de cette paroisse était un Congolais du nom de Gabriel, et il venait partager avec nous ce repas festif. Nous étions quinze convives. Joëlle et Serge avaient fait en sorte que tout soit « spécial ». Ils avaient préparé un déjeuner qui - n'était-ce le fait que nous avions un rendez-vous à seize heures – durerait certainement jusqu'à la tombée de la nuit.
De la maison de Joëlle et Serge nous retournons à l'Abbaye, en voiture ; les moines nous attendaient ; ils voulaient aussi rencontrer les Amis de Gaby Maire. Marie-Thérèse était là aussi avec Frédérique. Nous nous sommes présentés aux moines en répondant à leurs questions telles que celles-ci : « Comment avez-vous connu Gabriel ? Et comment vivez-vous aujourd'hui les fruits de cette relation ? » La réponse à cette seconde question suscitait dans le groupe étonnement, respect et enthousiasme.
Quand le Père Abbé a posé des questions à propos du procès (jugement des assassins, enquête sur les commanditaires), la sœur de Gabriel a pris la parole, montrant son désaccord avec certaines positions du groupe des Amis de Gaby. Il est évident que cela a créé une certaine gêne, elle a ses raisons, bien fondées, et même justes, selon son point de vue ; et le groupe des Amis de Gaby a aussi ses raisons de continuer, par des démarches qui s'imposent, à faire avancer le procès, raisons justes elles aussi. Lulu, avec sagesse, a su contourner cette gêne.
Lors d'une courte pause-café, les moines nous ont servi quelques gâteaux. Il faisait déjà nuit quand nous avons fait nos adieux.
Helder Salomão* est un ami de Gaby. Il a écrit ce chant juste après l'assassinat de Gaby.
Helder a été maire de Cariacica, aujourd'hui il est député fédéral