Nous sommes unis à nos amis brésiliens et les soutenons par la pensée ou la prière.
Ci-dessous un texte de Leonardo Boff, traduit en français par Claudette et Paul Clemens.
11.04.16 - Brasil
Dez lições da múltipla crise brasileira
Leonardo Boff
Adital
Toda crise acrisola, purifica e faz madurar. Que lições podemos tirar dela? Elenco algumas.
Primeira lição: o tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim com é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os políticos também da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que herdamos que seja democrático, includene, justo e sustentável.
Segunda lição: superar a vergonhosa desigualdade social impedindo que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa desigualdade se traduz em uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação iníqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública. Enquanto não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e pobre.
Terceira lição: prevalência do capital social sobre o capital individual. Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente a fome e fazê-lo um consumidor, mas fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.
Quarta lição: cobrar uma democracia participativa, construída de baixo para cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais que enriquecem a democracia representativa que, por causa de sua histórica corrupção, o povo sente que ela não mais o representa.
Quinta lição: a reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente, atendia as classes que detêm o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Ele está aí mais para garantir privilégios do que para realizar o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas partidária.
Sexta lição: o dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da constituição de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população brasileira) feitos escravos, carvão para o processo produtivo; os pobres em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados e humilhados pelas classes dominantes. Urge políticas compensatórias e proativas para criar-lhes oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade moderna.
Setima lição: fim do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha e desastrada política de conciliação ou de coalizão, mas uma concertação que acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das artes, das mulheres, das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda mínima aceita por todos.
Oitava lição: O caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e privatista. Em outras palavras, o bem comum (res publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso se concretiza por política sociais que atendam as demandas mais gerais da população a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se restringem apenas a ser distributivas mas importa serem redistributivas (diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista da redução da desigualdade social.
Nona lição: a dimensão geopolítica da crise brasileira. Não se pode pensar o Brasil apenas a partir do Brasil mas sempre dentro do contexto geopolítico global. Há grandes interesses dos USA, da China, da Rússia, da Arábia Saudita pela segunda maior jazida de petróleo do mundo, o pré-sal, e também como alinhar a sétima economia mundial dentro da linha geral definida pelos países centrais que controlam a macroeconomia neoliberal e capitalista. Não querem que no Atlântico Sul surja uma potência que siga um caminho próprio, especialmente articulada com os BRICS que fazem um contraponto ao sistema mundial imperante.
Décima lição: inclusão da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de direitos formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de nossa civilização.
Fonte:blog do autor
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Brasil
Dix leçons à retenir de la crise brésilienne à multiples facettes.
Adital du 11 avril 2016
De Leonardo Boff, philosophe brésilien
Toute crise transforme, purifie et fait mûrir. Quelles leçons pouvons-nous retirer de celle-ci ? En voici quelques unes.
Première leçon: Notre modèle de société ne peut plus continuer tel qu'il est maintenant. Les manifestations de 2013 et celles d'aujourd'hui ont montré clairement ceci : nous ne voulons plus d'une démocratie au rabais, d'une société profondément inégalitaire et d'une politique de marchandages. Dans les manifestations, les politiques, même ceux de l'opposition, ont été chassés. Et aussi les mouvements sociaux organisés. Nous voulons un autre type de Brésil, différent de celui dont nous avons hérité, qui soit démocratique, solidaire, juste et où tous aient de quoi vivre.
Deuxième leçon: Surmonter la scandaleuse inégalité sociale en s'opposant à ce que 5 000 clans familiaux contrôlent presque la moitié de la richesse nationale. Cette inégalité se traduit par une concentration perverse de terres, de capitaux et par une domination inique du système financier, avec des banques qui dépouillent le peuple et le gouvernement qui lui prélève un superavit primaire absurde pour payer les droits de la dette publique. Tant que les grandes fortunes ne seront pas imposées et que les banques ne seront pas soumises à des niveaux de gains raisonnables le Brésil sera toujours inégalitaire, injuste et pauvre.
Troisième leçon: Priorité du capital social sur le capital individuel. Ce qui veut dire: ce qui fait évoluer le peuple, ce n'est pas simplement juguler sa faim et lui permettre de consommer, mais c'est aussi renforcer le capital social destiné à l'éducation, la santé, la culture et la recherche du "bien-vivre", conditions premières d'une citoyenneté à part entière.
Quatrième leçon: Établir une démocratie participative, construite de bas en haut avec une forte présence de la société organisée et tout spécialement des mouvements sociaux qui enrichissent la démocratie représentative par laquelle, à cause de sa corruption historique, le peuple ne se sent plus représenté.
Cinquième leçon: la ré-invention de l’État national. Tel qu'il a été construit dans l'histoire, il s'occupait des classes qui détiennent l'argent,le pouvoir, le savoir et la communication à usage interne au sein des oligarchies en laissant toujours le peuple sur la touche, Il est présent, mais davantage pour garantir des privilèges que pour le bien général de la nation. L’État doit représenter la souveraineté du peuple et tous ses appareils doivent être au service du bien commun, avec une attention toute spéciale aux plus vulnérables (son caractère éthique) et sous le strict contrôle social avec les institutions créées pour cela. Nous avons donc besoin d'une réforme politique, avec une nouvelle constitution, fruit de la représentation nationale et non pas seulement des partis politiques.
Sixième leçon: la dette éthico-politique à payer à ceux qui ont été des victimes lorsque notre nation s'est constituée et qui n'a jamais été payée : envers les Indiens presque tous exterminés (plus de la moitié de la population brésilienne), les descendants d'Africains, amenés ici en esclaves, comme combustible pour la production ; envers les pauvres en général, toujours oubliés des politiques publiques, méprisés et humiliés par les classes dominantes. Il est urgent d'installer des actions politiques de compensation (...) pour leur donner des opportunités et leur permettre de profiter des avantages de la société moderne.
Septième leçon: fin du présidentialisme de coalition des partis, fait sur la base de marchandages et de trafic d'influence en tournant le dos aux pauvres ; c'est une politique de gens haut placés, déconnectée de la terre où vit le petit peuple. Avec ou sans Dilma à la tête du gouvernement on a besoin, pour sortir de la crise plurielle, d'une nouvelle concertation entre les forces présentes dans la nation. On ne peut pas s'en tenir aux partis qui tendraient à reproduire la vieille et désastreuse politique d'arrangements ou de coalition, mais une concertation qui accueille des représentants de la société civile organisée, des mouvements sociaux de caractère national, des représentants des entreprises, des intellectuels, des arts, des femmes, des Églises et des religions afin d'élaborer un programme minimum accepté par tous.
Huitième leçon: le caractère clairement républicain de la démocratie qui va au delà de la démocratie néolibérale (...). Autrement dit, le bien commun (res publica) doit devenir prioritaire et passer devant le bien particulier. Ceci se concrétise par des politiques sociales qui tiennent compte des demandes plus générales de la population à partir des nécessiteux et de ceux qui sont laissés pour compte. Les politiques sociales ne se réduisent pas à des distributions mais il importe qu'elles soient redistributives (enlever à celui qui a plus pour repasser à celui qui a moins), en vue d'une réduction des inégalités sociales.
Neuvième leçon: la dimension géopolitique de la crise brésilienne. On ne peut pas penser le Brésil en s'en tenant au seul Brésil, mais toujours dans un contexte géopolitique global. Il y a de grands intérêts de la part des USA, de la Chine, de la Russie, d’Arabie Saoudite qui convoitent le deuxième gisement de pétrole du monde,(...) ; et par ailleurs, comment intégrer la septième économie mondiale au sein d'un périmètre défini par les pays clés qui contrôlent la macro économie néolibérale et capitaliste. Ils ne veulent pas que dans l'Atlantique sud émerge une puissance qui suive son propre chemin, spécialement si elle fait partie des BRICS qui vont à contre courant du système mondial dominant.
Dixième leçon: Intégration de la nature avec ses ressources et ses services et ceux de la Terre-Mère avec ses droits en constituant un nouveau type de démocratie socio-cosmique, à la hauteur d'une conscience écologique qui reconnaisse tous les êtres comme étant des sujets de droits formant un grand tout : Terre-nature-être humain. C'est la base d'un nouveau type de civilisation, centrée sur le vivant, capable de garantir l'avenir de la vie et de notre civilisation.